Na segunda-feira, dia 15, foi publicado mais um post que assino como colaborador para a Rádio UOL. Em COQUETEL deste mês escrevi sobre a dificuldade de fazer sucesso na carreira da música. Espero que curtam. Para ler o conteúdo na página da Rádio UOL clique aqui.
vida FÁCIL?
Todo músico sabe a via crucis a ser percorrida para estabilizar a carreira. Até o primeiro disco ser gravado e a rotina de shows garantirem algum retorno financeiro muitos desistem no meio do caminho. Chega-se ao ponto em que outra fonte de renda, além da música, é necessária. Se algo significativo não acontecer, é evidente que abrir mão de seu sonho e partir para um trabalho “convencional” será a solução. Acreditar, ser talentoso e persistir faz diferença, mesmo que a duras penas.
Beck estava desempregado quando resolveu dedicar-se integralmente à música. Ele realizava qualquer atividade que lhe rendesse algum dinheiro, como operar soprador de folhas (leaf blower). O aparelho é utilizado como ferramenta de jardinagem, mas também serve para varrer grandes áreas.
Em 1993, o cantor lançou o single “Loser”, título mais que adequado à situação que vivia, e a mágica aconteceu. A música foi sucesso imediato nas college radios americanas, e inúmeras gravadoras, com promessas de contratos milionários, disputaram o seu passe. A recompensa de todo sacrifício foi a estreia com Mellow Gold no ano seguinte. Odelay, de 1996, e Sea Change, de 2002, fazem parte da lista dos Melhores Discos de Todos os Tempos, segundo a revista Rolling Stone.
A um minuto e cinquenta e um segundos do clipe Beck aparece usando o equipamento de seu antigo emprego.
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Com Nathan Willians a realidade foi menos dura. Até os 21 anos ele trabalhou como vendedor em loja de discos. O tempo livre era ocupado com o skate e como colaborador em blog de cultura hip hop. Neste mesmo período, Nathan começou a registrar alguns ensaios usando gravador analógico, e editava o material com o Garage Band. Por não saber usar o software corretamente as músicas ganharam sonoridade lo-fi, característica presente até hoje em seu trabalho.
Willians é de San Diego, na Califórnia, e o nome de sua banda, Wavves, foi escolhido por causa da fobia que ele sente do mar. As primeiras músicas publicadas via Pitchfork tiveram grande número de acessos, receberam críticas favoráveis, e impulsionaram a popularidade. A procura por shows aumentou, Ryan Ulsh foi convocado para as baquetas, e o destino foram os festivais espalhados pelos Estados Unidos e Europa.
“I Wanna Meet Dave Grohl” foi a segunda música de trabalho do EP Life Sux. Ela foi lançada apenas como single. Nathan caprichou nas referências ao líder do Foo Fighters com o clipe de “Bug”.
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Situação completamente oposta, talvez insalubre, viveu Mac DeMarco antes das primeiras gravações. Ele é de uma pequena cidade ao sul de Vancouver, e quando chegou a Montreal, no começo de 2012, trabalhou em empreiteira pavimentando rodovias. Somando seu rendimento com o cachê de raras apresentações, ele partiu em busca da terceira fonte de renda. Essa, sim, bizarra: cobaia em experiências médicas.
Felizmente, ou melhor, ainda bem para DeMarco que o EP Rock And Roll Night Club começou a fazer sucesso. Na sequência veio contrato com gravadora, o lançamento de 2, disco de estreia, e turnê mundial. Conquistas realizadas em menos de um ano. Lembra da persistência mencionada no começo do post?
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O mesmo músico que passou pelo martírio e superou inúmeras dificuldades até atingir o sucesso, pode colocar tudo a perder caso o foco em sua carreira seja perdido. São muitos os exemplos em que o deslumbramento e os excessos colocaram fim ao que era promissor. A liberdade é a principal parceira do artista. A disciplina deveria ser sua companheira.
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“Um brinde!
O nosso astro merece”
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Lex, Leandro Borghi, é designer gráfico, produz e apresenta a dose_INDIE há 4 anos, publicada semanalmente no dezcapas.wordpress.com.
Escrito por lextv
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